segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Nascer de Novo


O Evangelho de São João narra a conversa noturna de Cristo com Nicodemos (Jo 3, 1—1). Tendo ido ao encontro de Cristo, este membro do Sinédrio exprime a sua fé: «Rabbi, sabemos que vieste, como Mestre, da parte de Deus, pois ninguém pode fazer milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele» (Jo 3, 2). Jesus responde- lhe: «Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus» (Jo 3, 3). Nicodemos pergunta-Lhe: «Como pode nascer um homem sendo velho? Poderá entrar pela segunda vez no seio de sua mãe e voltar a nascer?» (Jo 3, 4). Jesus responde: «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito » (Jo 3, 5-6).

Jesus faz com que Nicodemos passe das realidades visíveis às invisíveis. Cada um de nós nasceu de um homem e de uma mulher, dum pai e duma mãe; este nascimento é o ponto de partida de toda a nossa existência. Nicodemos pensa nesta realidade natural. Ao contrário, Cristo veio ao mundo para revelar outro nascimento, o nascimento espiritual. Quando professamos a nossa fé, dizemos quem é Cristo: «Creio num só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria e Se fez homem. Sim, jovens, meus amigos, o Filho de Deus também Se fez homem por vós, por cada um de vós!

4. «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus» (Jo 3, 5). Deste modo, para entrar no Reino, o homem deve nascer de novo, não segundo as leis da carne, mas segundo o Espírito. O batismo é precisamente o sacramento deste nascimento. O Apóstolo Paulo explica-o em profundidade, na passagem da Carta aos Romanos que acabamos de escutar: «Ignorais, porventura, que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na Sua morte? Pelo batismo sepultamo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4). O Apóstolo oferece-nos aqui o sentido do novo nascimento; mostra porque o sacramento do batismo se realiza pela imersão na água. Não se trata duma imersão simbólica na vida de Deus. O batismo é o sinal concreto e eficaz da imersão na morte e na ressurreição de Cristo. Compreendemos, então, porque a tradição ligou o batismo à Vigília pascal. É neste dia, e sobretudo nesta noite, que a Igreja revive a morte de Cristo, que a Igreja inteira é tomada no cataclismo desta morte, da qual surgirá uma vida nova. A vigília, no sentido próprio da palavra, é então a expectativa: a Igreja espera a ressurreição, espera a vida que será a vitória sobre a morte e levará o homem a esta vida.

A toda a pessoa que recebe o batismo é dado participar na ressurreição de Cristo. São Paulo retorna muitas vezes a este tema que resume o essencial do verdadeiro sentido do batismo. Ele escreve: «Uma vez que nos tornamos com Ele num mesmo ser por uma morte semelhante à Sua, também o seremos por uma ressurreição semelhante» (Rm 6, 5). E também: «Sabemos todos que o velho homem foi crucificado com Ele, para que o corpo do pecado fosse destruído, a fim de já não sermos escravos do pecado. Na verdade, aquele que morreu está absolvido do pecado. Se morrermos em Cristo, com Ele também havemos de viver, pois sabemos que Cristo, ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque, quanto a Ele, morreu pelo pecado, morreu uma só vez; mas a Sua vida é uma vida para Deus. Do mesmo modo, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo» (Rm 6, 6-11). Com Paulo, queridos jovens, vós dizeis ao mundo: a nossa esperança é firme; por Cristo, vivemos para Deus. (...) 22 de Agosto de 1997

(XII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
TRECHO DA MEDITAÇÃO DO PAPA DURANTE
A «VIGÍLIA BATISMAL»
COM OS JOVENS EM «LONGCHAMPS», PARIS)