sábado, 16 de abril de 2011

Vida Nova Batismal


Dom Orani João Tempesta - Arcebispo Metropolitano Durante o nosso itinerário batismal, chegamos ao anúncio de que viver a vida cristã é renascer, ter vida nova, sair do túmulo! A experiência cristã é justamente essa vida que brota do encontro com Cristo e que torna a pessoa discípula-missionária. A passagem do Evangelho do quinto domingo deste tempo favorável da Quaresma (cf. Jo 11,1-45) está entre tantas daquelas que mostram a força e a grandeza de Jesus; Ele está longe da aldeia de Marta, Maria e Lázaro, quando chega a notícia da morte de seu amigo. Jesus tinha muitos problemas na Judéia para voltar por causa das ameaças recebidas, mas, por causa do seu amigo, decidiu ir assim mesmo: Ele não se distancia do sofrimento e da tragédia da vida. Podemos pensar em quantas vezes nós não nos importamos com as pessoas, com seus problemas e suas dificuldades. Isso tanto nas questões cotidianas como no anúncio de uma Boa Notícia para aqueles que a esperam, como a terra seca e árida pedindo chuva. Muitos dos nossos, ainda hoje, muitas vezes querem ficar longe, ficar longe de tantos Lázaros enterrados e oprimidos. Talvez esses, como Marta, também se voltem para Jesus e lhe digam uma espécie de censura: "Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido" É como dizer: "Se tu estivesses perto, Senhor, não teria acontecido essa desgraça", ou "Se você estivesse ao lado do povo, esses assassinatos não teriam ocorrido", e assim por diante. O Evangelho, de fato, nos diz que não é Jesus que está longe, mas os homens. E, às vezes, isso impede até mesmo de chegar perto de Jesus. Perguntemo-nos onde estamos, sim, enquanto milhões morrem de fome? Onde estamos, enquanto milhares de pessoas estão sozinhas e abandonadas em hospitais? Infelizmente nós, muitas vezes, estamos longe de nossos irmãos. Podemos estar falhando em anunciar essa proximidade do Senhor diante da vida e sofrimentos da pessoa. Porém, o Senhor está ali, próximo, e chora sobre seus amigos abandonados, como chorou por Lázaro. Isso vai acontecer com Ele em poucos dias, no Getsêmani, quando ficará sozinho e suará e derramará como gotas de sangue. Jesus fica sozinho na frente de Lázaro a esperar contra todas as probabilidades. Até mesmo as irmãs tentam dissuadi-lo, mas Ele quer abrir o túmulo. "Senhor, já cheira mal: está lá há quatro dias", diz Marta. Este texto vai, porém, muito mais longe: é o anuncio batismal que nos chama a uma nova vida. A vida no pecado e longe de Deus pode desencadear um desânimo, achando que nada tem mais jeito. Os que ainda não foram iluminados pelo batismo podem pensar que não vale a pena sair da situação em que se encontram. Muitos acham impossível alguém sair da situação podre de sua vida. É o grande anúncio batismal que está no centro da perícope deste domingo. O amor do Senhor não conhece limites, mesmo os de morte: quer o impossível. Esse túmulo, portanto, não é a última morada dos amigos de Jesus, por isso grita: "Lázaro, vem para fora". Um amigo ouve a voz de Jesus, exatamente como está escrito: "As ovelhas conhecem a sua voz". E, novamente, o bom pastor "chama as suas ovelhas, cada uma pelo nome e as conduz para fora" (Jo 10, 3). E agora o profeta Ezequiel tinha escrito: "Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó meu povo" (37, 12). Lázaro escuta, e sai. Jesus não fala a um morto, mas a um vivo, talvez para um que está dormindo, por isso grita. E convida os outros para desenrolarem as faixas em que o amigo encontra-se envolvido. Mas libertando Lázaro “morto” das faixas, Jesus liberta-nos, na verdade, cada um de nós do egoísmo, da frieza, da indiferença, da morte dos sentimentos. Temos necessidade de que outros nos ajudem em nosso itinerário b atismal, desenrolando as faixas que nos amarram. É justamente a figura da nova criatura que deve ressuscitar com Cristo. "Eu sou a ressurreição e a vida", disse o Senhor. No seu Evangelho, em seu corpo, a vida é ressuscitada. "Tirai a pedra". O Papa Bento XVI em sua mensagem quaresmal nos ensina que: “Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: “Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?” (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: “Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos, a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé, todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos “da água e do Espírito Santo”, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos”. Jesus abre o lugar da morte, Ele nos tira de nossas mortes, arranca-nos dos túmulos! É vida do batizado, do cristão que morre com Cristo e com Ele ressuscita! "Lázaro, vem para fora". Jesus chama a todos pelo nome. Assim é o nosso batismo; somos chamados pelo nome! O nome significa toda a vida de um homem. Ele defende-nos do mal. Seu amor é pessoal. Hoje, a amizade de Deus, que vemos refletida na amizade que Ele gera entre os homens, recorda a alegria dos corações em um mundo reduzido aos túmulos. Lázaro antecipa a Páscoa quando Jesus, o redentor do homem, traz a vida para os que creem n´Ele e nos chama a anunciá-Lo com alegria aos irmãos e irmãs de nosso tempo.